tag:blogger.com,1999:blog-71250110523227973002024-02-20T02:03:26.117+00:00Estórias sem agáSockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.comBlogger54125tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-81086435738218012652013-02-07T17:42:00.000+00:002013-02-07T17:42:05.382+00:00Formas de dar VIDA aos Anos: Envelhecer com Arte são os meus desejos<a href="http://formasdedarvidaaosanos.blogspot.com/2011/10/envelhecer-com-arte-sao-os-meus-desejos.html?spref=bl">Formas de dar VIDA aos Anos: Envelhecer com Arte são os meus desejos</a>: O «Outono da Vida» é a étapa dos Séniores em que se descobre a dimensão mais profunda e humana da vida e do saber.<br />
<br />
Semelhante ao utilizado nos blogsSockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-42791723597841013212013-02-07T17:32:00.002+00:002013-02-07T17:32:17.303+00:00Semelhante ao utilizado nos blogsSockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-14024928816727845572011-11-13T15:18:00.002+00:002011-11-13T16:53:09.581+00:00O AbafadorAi, credo!...<br />Que brutalidade!...<br />Pasmo perante a coragem de certa gente!...<br /><br />Quem assim exclamou, foi a sensível e meliflua Alice Guerra, que não podia ouvir falar de certas<br />coisas.<br />O professor Hugo Veloso, que nos ministrava a matéria designada por Artes e Humanidades, decidira naquele dia falar-nos sobre a obra de Miguel Torga, nomeadamente o conto " O Alma Grande" inserido na 3ª edição do Novos Contos da Montanha.<br />A história que Torga nos conta com suma mestria, fala-nos de uma terrinha do nosso nordeste transmontano, onde ainda imperava o ancestral hábito de abreviar a vida dos que não tinham salvação possível, chamando o Abvafador, cuja alcunha era a de Alma Grande.<br />Tratava-se de um individuo bastante alto, mal encarado e de adunco nariz, que morava no cimo de uma ingreme ruela, pela qual sempre soprava um gélido vento galego.<br /><br />Quase ao mesmo tempo da exclamação da Alice, outros comentários surgiram:<br />O Tito Rodrigues, com o lirismo que lhe é peculiar, manifestou satisfação pelo facto deste nosso país ter evoluido o suficiente para acabar com a eliminação de actos tão desumanos.<br />Por sua vez, o professor, de indicador em riste, foi dizendo que a eliminação de pacientes portadores de enfermidades incuráveis, embora com contornos diferentes, ainda hoje era praticada, embora sob a designação de eutanásia.<br />Neste caso, tal como nos conta Torga, o paciente Isaac ainda não queria morrer.<br /><br />Fora a mulher do Isaac e mãe do pequeno Abel, quem mandára o rapaz chamar o Abafador, depois do senhor doutor ter sentenciado de que " nada mais posso fazer".<br />Assim, foi o pequeno Abel que, trepando a ingreme e ventosa ruela, começou a chamar, ainda de muito distante:<br />Tio Alma Grande!...<br />Ó Tio Alma grande!...<br /><br />Pouco depois, o avantajado Abafador, empurrando com um dos pés a porta do quarto onde sofria o doente, entrou.<br />O Isaac, que ainda ardia com um febrão que já durava há duas semanas, vendo chegar o seu carrasco, agitou-se.<br />Quis gritar, mas apenas conseguiu emitir um surdo; Não!...ainda não!...<br />Mas o Abafador tinha uma missão a cumprir.<br />Trepou para a cama e logo enclavinhou as suas enormes manápolas nas goelas do Isaac, enquanto posicionava convenientemente as suas pernas de modo a que um joelho esmagasse o peito do paciente.<br /><br />A atenta aluna, Maria de Céu Pinheiro, tensa, gemeu, enquanto exclamava; Que estúpidos costumes!...<br />Por sua vez, a Nadir Machado apertava entre as nervosas mãos, a sua dor!...<br />O Porfírio, sensível à narrativa, terrincava os dentes.<br /><br />Entretanto, o Isaac, com os olhos a saltar-lhe das órbitas, resfolegava: Não...não...ainda não!...<br />Porém, o Abafador, com a perícia que a sua experiência lhe emprestava, apertava o gasganete do Isaac que, de peito esmagado sob o joelho do carrasco, estava prestes a sucumbir.<br />Foi então que surgiu o imprevisto.<br />O miudo, o Abel, movido pela curiosidade, quis ver.<br />A porta do quarto onde jazia o seu pai, rangendo, abriu.<br />O carrasco distraiu-se.<br />Então, o Isaac, momentâneamente liberto da pressão do joelho e das mãos do carrasco, usou a força que o instinto da conservação nos empresta e, dando um safanão, libertou-se.<br />O carrasco, sentindo o seu prestigio severamente ferido, saltou para o chão do quarto, deu um jeito à pala doseu boné e, sem perder tempo, escapuliu-se.<br />Por sua vez, o miudo Abel, espantado e tremendo de medo, ficára finalmente a saber qual era o ofício do Tio Alma Grande.<br /><br />A turma, toda a turma, e creio que também o professor, respiraram fundo.<br />Mas a história ainda não acaba aqui...<br />Ora leiam:<br />O febrão do Isaac acabou por se ir embora e nõ tardou que ele recuperasse o seu forte arcaboiço de lavrador capaz de dominar, sem ajudas, um bezerro pelos cornos.<br />Ele, sentia gravada bem fundo no seu entendimento a brutalidade animal do Abafador e jurou que se o destino lhe proporcionasse encontrá-lo um dia à mão...ajustariam as contas.<br />Sem que desse nas vistas, o Isaac foi-o vigiando.<br />Mas não era fácil...ele tinha hábitos muito precisos e prudentes. Dificeis de prever.<br /><br />Até que um dia...<br />O Isaac apanhou-o a jeito e, pelas costas, rasteirou-o.<br />O avantajado Alma Grande, sem saber ainda muito bem o que lhe estava a acontecer, já sentia no seu cachaço a caloisa tenaz das mãos do Isaac, enquanto as suas costas eram esmagadas pelo possante joelho do Isaac que, animado pelo seu desejo de retaliação e da força que lhe provinha do facto de ser bem mais novo, não cedia um mlimetro sequer.<br />Antes pelo contrário.<br />O olhar do Abafador, de espanto, passou a de desespero...enquanto seu peito parecia que ia rebentar, suas forças abandonavam-no, até que cedeu.<br /><br />Pouco depois, quando o Isaac desmontado da sua já inerte vitima, regressava a casa, sentia desvanecer-se do seu cérebro o rosto do carrasco.<br />E, com um sorriso a assomar-lhe os lábios, imaginava agora um caçador a ser abatido pelo ricochete do seu próprio disparo....<br /><br />A turma entreolhou-se, sorriu e voltou a respirar fundo.Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-63034948040748863492011-11-13T14:06:00.002+00:002011-11-13T15:14:36.513+00:00Tempos de criseHá dias, neste mesmo local de paragem do autocarro da carreira 94, junto do mercado do Bolhão,<br />assisti à modesta demonstração de um cachorrito que ajudava o seu jovem domador a receber na latita que portava suspensa da coleira, a esmola de umas moeditas.<br /><br />Dias depois, nesta mesma paragem do 94, observei um homem pobremente vestido que se deslocava com o auxilio de duas bengalas canadianas.<br />Cantarolava e, como instrumento, batia - uma na outra - com o aluminio das hastes das suas duas canadianas.<br />Como é bom de ver, os sons resultantes das batidas não eram muito agradáveis...valia-lhes o ritmo, que era sofrivel.´<br /><br />Desci a rua de Sá da Bandeira e breve cheguei ao Terreiro da Sé, para uma visita à casa onde teria residido Dom Hugo e ao museu Guerra Junqueiro, situado mesmo ao lado. Mas, porque o grupo a que eu pertencia ainda não estava presente, decidi esperar sentado nos degraus do Pelourinho.<br />E, porque o granito do degrau estava muito frio, abri um livro que trazia na minha sacola e sentei-me sobre as suas páginas abertas.<br /><br />Enquanto esperava fui olhando em meu redor e pude ver, para além de inúmeros turistas, situações inesperadas.<br /><br />----Um rapazote de boné caído sobre os olhos e encavalitado sobre uma bicicleta, fazia as mais espantosas cabriolices à volta de todo o amplo terreiro da Sé.<br />Ateitei no ciclista e reparei que, de vez em quando, passava tangencialmente por um autimóvel de cor preta e de vidros fumados que estava estacionado junto da casa dos vinte e quatro.<br />Não pude ver quem se sentava ao volante do espada preto, mas pela nesga da aberta janela do condutor, pareceu-me ver uma figura masculina de chapéu preto, cuja aba lhe escondia parte do rosto.<br /><br />----Entretanto, uma figura de aspecto feminino, botas pretas de cano alto, casaco comprido de cor preta e barra felpuda a roçar o cano das botas, depois de subir a calçadinha de acesso ao terreiro - mesmo em frente do Café/Bar Calhambeque, aproxima-se dos degraus do pelourinho onde eu estava sentado, quando é interpelada pelo ciclista, que lhe diz de passagem qualquer coisa que não pude ouvir.<br />A tal figura de aspecto feminino interrompe imediatamente a sua caminhada e, retrocedendo, volta a descer a calçadinha.<br />Parece-me lógico deduzir que havia uma qualquer relação entre o malabarista ciclista, o espada preto e esta figura de feminino aspecto.<br />Jamais terei confirmação.<br /><br />----Quase ao mesmo tempo, dois jovens, um rapaz e uma rapariga, passam por mim vagarosamente. Ele olha para mim e continua o seu caminho. Ela, pouco depois olha também e sorri para mim. Eu, enquanto devolvia o sorriso, pensava: Devem ser turistas...<br />Decorridos poucos segundos, para meu espanto, vejo sentar-se no degrau, ao meu lado, a sorridente "turista" que me pergunta com a maior naturalidade deste mundo: Você está de visita a este local pela primeira vez? Não precisa de uma guia?<br />Fiquei esclarecido.<br /><br />Depois, já com a presença do meu grupo, começava a visita às ruínas da residencia do ilustre Dom Hugo, que terá governado esta cidade do Porto, nos primórdios da sua fundação.<br />Curiosamente, misturadas com as palavras sábias do nosso guia, ainda ouvia a "turista" perguntar-me: Não precisa de uma guia ?<br /><br />Duas horas depois e de acordo com a imposição dos meus 87, desci vagarosamente a ladeira, ladeei a Estação de S.Bento e trepei depois até ao Bolhão.<br />O 55, com destino a Baguim, deixar-me-ia em S. Roque, a dois passos da minha casa.Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-43716033723330845862011-11-12T17:43:00.002+00:002011-11-12T18:27:38.236+00:00Novos pedintesObtidas as cópias que fora tirar na Copipress do Via Catarina, saí do edificio descendo aquele pedacinho da rua Fernandes Tomaz até ao Bolhão, onde se situam as paragens de todos os autocarros que se dirigem para Nascente, tais como: Baguim; Ermesinde; Valongo; Gondomar e S. Pedro da Cova.<br />Estavam vários, parados, a cumprir horários, mas eu decidindo pelo 94, entrei na respectiva fila, onde já estavam cerca de vinte pessoas.<br />Já na fila, situada imediatamente antes de mim, uma mulher despertou a minha atenção: Vestia normalmente, teria cerca de sessenta anos e, com a boca toda, roía um papo-seco.<br /><br />Na empedrada calçada, mesmo ao lado da fila, um rapazote de aspecto saudável e de cerca 20 anos. fazia-se acompanhar de um cão que aos meus olhos, era cruzado de Setter.<br />O rapaz pedia esmola.<br />Mas não estendia a mão; uma latita pendurada no pescoço do cachorro, era o receptáculo das moedas que lhe quisessem dar.<br />Reparei nessa altura que o cachorro parecia não estar habituado a cumprir as ordens deste dono, pois não as atendia com a devida ligeireza. Quando o rapazote lhe ordenava "senta" o bicho era muito lento a obedecer o que permitia crer que a ligação domador/cachorro era muito recente.<br />Tal domador, aliciava o animal atirando-lhe pedacinhos de pão, que o cachorro deveria abocanhar antes que caissem ao chão, o que não acontecia com frequência, o que tornava evidente que o bicho estava ali a fazer um frete, o que me deu o direito de pensar que o rapaz não era dono do bicho há muito tempo.<br /><br />Então eu, pensando alto e olhando para a mulher situada na fila à minha frente, desabafei:<br />Vivem-se hoje tempos estranhos...veja-se o processo que este rapaz arranjou para obter uns cobres!...<br /><br />A velha, olhou para mim de viés, torceu ligeiramente a cabeça na minha direcção e, sem nada dizer, deu mais uma dentada no papo-seco...<br /><br />O raçado canideo, com a lata já a chocalhar de moedas, continuava a ter de apanhar do empedrado chão, os pedacitos de pão que não conseguira abocanhar no ar....Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-75180874089328812662011-11-12T16:52:00.002+00:002011-11-12T17:37:09.503+00:00A doutora AdelaideNo meu matutino e diário passeio, vejo-a na rua com muita frequência.<br />Vergada ao peso dos seus quase noventa anos, ainda vai saindo de casa para fazer as suas compritas.<br />Já a conheço há vários anos, desde o tempo em que ela - ainda a tempo inteiro - exercia as funções de directora técnica de uma farmácia lá das minhas redondezas.<br />É solteira e, pasme-se, sempre viveu só, e ninguém lhe conhece qualquer parente.<br /><br />Hoje, encontrei-a na loja onde habitualmente compro fruta, ou outras pequenas coisas para consumo imediato.<br />Quando entrei, estava a doutora Adelaide a mexer em cachos de bananas, ainda contidos na original caixa de grosso cartão prensado, onde ainda se podia ler Produto da Colõmbia.<br />Tinha nas mãos um cacho com oito ou nove bananas,<br />Olhou, apalpou, voltou a olhar, para depois dizer tão baixinho que só eu pude ouvir por estar muito próximo dela: São muitas!...<br />Esgalhou o cacho, ficou com quatro nas mãos e voltou a pôr na caixa as restantes.<br />De seguida, sem reparar que eu estava antes dela, entrou na fila para pagamento. Entretanto, perguntou à dona da loja: Ò Guidinha, o que me aconselha a fazer para destruir umas papeladas que tenho lá em casa?<br />A bojuda lojista, super atarefada e sem olhar a doutora, respondeu-lhe: Olhe; queime-os!...<br />Um outro feeguês, postado na fila e que tinha nas mãos uma embalagem de papel com seis cervejas, meteu~se na conversa para dizer: Mas não faça muito fumo, senão alerta os bombeiros que lo aparecerão para saber qual a origem do fumo!...<br />Foi quando a lojista retrucou; Queime-os dentro de uma lata!...<br />O freguês das cervejas parece não ter gostado porque logo retrucou: E queimados dentro da lata já não fazem fumo?<br />Após uma ligeira pausa, a lojista, que tinha estado de gaveta aberta a fazer uns trocos e sem olhar para ninguém sentenciou: Ou então, rasgue-os.<br /><br />A doutora Adelaide muito pausadamente mas a tremelicar faz-se ouvir dizendo: Rasgar é que não...é papelada de muita responsabilidade que pode ser apamhada por alguém mal formado que aproveite os nomes e os endereços para fazer qualquer vigarice!... Prefiro queimá-los.<br />E, voltando-se depois para o homem das cervejas - que me pareceu ser seu vizinho - acrescentou: O senhor não tem lá por sua casa uma lata velha e grande, para eu os queimar?<br />Este, depois de demorada e silenciosa olhadela para a velha doutora, responde enquanto encolhe os ombros:<br />Deixe lá doutora, não se preocupe com a papelada...um dia destes eu passo lá por sua casa e levo a lata para os queimar.<br /><br />A senhora doutora parece ter ficado tão contente com a oferta que até deu um beijinho na face do homem das cervejasSockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-31266083164998635842011-11-12T15:22:00.002+00:002011-11-12T16:13:00.762+00:00Casa das sandesEntrei para o 800, provindo de Gondomar,na paragem que se situa a meia dúzia de passos do portão do logradouro que enfrenta o meu prédio de 46 condóminos e, dando uma longitudinal olhadela a todo o miolo do autocarro vislumbrei,bem lá ao fundo,no atrelado,um lugar vago.<br />Melhor direi se disser que tal lugar estava ocupado pela enorme sacola da passageira que,sentada do lado da janela, fazia uma coisa que pouco se ve já nos dias que <br />correm: Malha.<br />Era uma manga daquilo que viria a ser, mais tarde,um pulôver.<br />Aproximei-me, parei, e apontando o lugar mal ocupado, proferi: Dá licença?<br />A passageira, sem largar as longas agulhas e o fio de lã de cor acastanhada que segurava entre os dedos, monologou sem sequer me olhar: Estava vago...<br />Agradeci e sentei-me.<br />De soslaio,olhei o constante dedilhar e comentei:<br />Pouca gente, hoje, ainda faz malha!...<br />Tive resposta imediata quando ouvi: É uma camisola para um dos meus dois rapazes, e eu aproveito este tempo da viagem para a ir fazendo...<br />Depois,fazendo uma pausa no seu dedilhar, cutucou-me no braço para me dizer:<br />Também, se não fosse durante as viagens, quando é que eu teria tempo para a fazer?<br />De seguida, torceu ligeiramente o pescoço na minha direcção, para acrescentar: veja bem; levanto-me ás sete e depois de tomar o pequeno almoço, tenho de adiantar o almoço para os meus rapazes, que o meu Pai - que já está aposentado - acabará quando forem horas.<br />Quando saio de casa para o emprego, já passa das dez...porque eu entro às onze e meia e só saio do trabalho depois das sete da noite!...<br />Tá ver...se não fosse agora, quando é que eu tinha tempo para fazer a camisola?<br />E acrescentou:<br />Saio no Bonfim, logo a seguir à Igreja,apanho a rua de Pinto Bessa e desço lá ao fundo, em frente da Estação de Campanhã, mesmo ao pé do meu trabalho...é só atravessar a rua.<br />É na Casa das Sandes; não conhece? Come-se lá muito bem!...Eu não sirvo clientes, estou só na cozinha.<br />Admirei o seu orgulho quando acrescentou: E não quero lá mais ninguém! Aquela cozinha anda que nem um brinquinho.<br />Após ligeira pausa acrescentou. O meu ordenado não é por aí além, mas é certinho.<br /><br />E porque a paragem do Bonfim se proximava foi guardando as suas "coisas" enquanto afável me dizia: Apareça por lá um dia destes...<br />Olhe: se for; abro uma excepção e vou eu lá servi-lo...<br /><br />Já no passeio e enquanto o 800 passava por ela, ergueu um braço para me dizer adeus, acompanhado de um rasgado sorriso.Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-76441179965943896372011-11-10T16:52:00.002+00:002011-11-10T17:12:29.521+00:00Amor eternoDe janelas abertas<br />Devido ao calor<br />E ao torpor,<br />Arfavam<br />Pelos esforços<br />Dispendidos.<br /><br />Ele, em réstia de desejo,<br />E depois de um beijo,<br />Lhe mordisca um seio.<br /><br />Ela, sem sequer<br />Seus olhos abrir,<br />Lhe cicia com ardor,<br />Volta,meu amor...<br /><br />Então, ele a retomou,<br />E de novo empolgados,<br />Voltaram a gemer,<br />Enlaçados...<br /><br />E uma vez mais,loucos; <br />Amor para sempre<br />Voltaram a jurar...<br />Sabendo; que ele é eterno,<br /><br />Sómente enquanto durar..,Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-28557813761135814832011-11-10T16:39:00.002+00:002011-11-10T16:50:17.524+00:00AmigosVaidoso,<br />Inda dúzias deles<br />Mantenho<br /><br />Bons tempos estes<br />Em que com eles<br />Posso festejar<br />E até, desbaratar,~<br />Alguns dos bens <br />De que disponho.<br /><br />Porém;<br />Gostaria de saber<br />O que pode acontecer<br />Com alguns deles,<br />Se vier a perder<br />Quanto ainda tenho!...Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-31511249582131182882011-11-10T16:13:00.002+00:002011-11-10T16:36:57.976+00:00Rosto riscadoNo chão, com um graveto,<br />Risco o teu belo e risonho<br />Rosto, e sonho...<br /><br />Dali, até vejo a tua casa!...<br /><br />E se eu entrasse pelo jardim,<br />Sem que me visses,<br />Trepasse pela árvore<br />E dali para a varanda <br />E me introduzisse<br />Como um gato, no teu quarto<br />E te tomasse?..,<br /><br />Decerto perguntarias;<br />Quem és tu?<br />E eu responderia:<br />Sou eu, não me reconheces?<br /><br />Olha que em tempos, já brincamos!...<br />Eu era o senhor doutor<br />E tu minha doente!...<br />Já não te lembras?...,<br /><br />E quando eu julguei<br />Que ias acarinhar a mão que te afagava,<br />Tu, soberba, as costas me voltaste.<br />Então, acordei,<br /><br />E,com o pé, tal rosto,<br />Do chão apagueiSockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-36188918653356603772011-11-10T16:02:00.002+00:002011-11-10T16:11:48.029+00:00RomanceDesde pequenino<br />Que oiço adultos dizer:<br />Da minha vida,<br />Um romance se poderia fazer.<br /><br />Entretanto...<br /><br />Fui vivendo e crescendo<br />E, quase sem querer<br />Menino deixei de ser.<br /><br />E agora, dia a dia,<br />Quem diria!...<br />Que tenho vindo a fazer?<br /><br />Ora!...<br />O que ser havia,<br />Senão eu próprio <br /><br />A escrever<br />O romance <br />Da minha vida ?!...Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-76448657924872114182011-11-10T15:47:00.003+00:002011-11-10T16:01:07.765+00:00RepensarSob o tema "mente"<br />Outrora escrevi,<br />Textualmente:<br /><br />"Se, um humano ser,<br />É exactamente,<br />Aquilo que pensar..."<br /><br />Agora, que tal escrito reli.<br />E após sério matutar<br />Um impulso senti<br />De o rectificar.<br /><br />Hoje,acho,que o "Se"<br />Está ali a mais e,<br />Por isso, o vou retirar.<br /><br />Assim; como tal"Se"vou retirar,<br />Para sempre,<br />Irá ficar:<br /><br />" Um humano ser<br />Será, exactamente,<br />Aquilo que pensar"Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-48401012896840852382011-11-10T15:35:00.002+00:002011-11-10T15:43:25.597+00:00Tempo para amarNão!não digas,<br />Que não tens tempo <br />Para amar!...<br /><br />Tal tempo, quanto custa?<br />Quanto tens por ele pagar?<br />Olha que, tempo,<br />Tens que o arranjar!...<br />Nem que para isso tenhas,<br />De tal tempo inventar.<br /><br />Vá, pòe em acção<br />A tua criatividade...<br />Olha que o tempo<br />Não te irá perdoar!...<br /><br />Não duvides;<br />Teres ou não,<br />Tempo para amar,<br />É apenas uma questão,<br /><br />De tempo !...Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-2001338962180815682011-11-10T15:31:00.000+00:002011-11-10T15:32:11.785+00:00Tempo para amarSemelhante ao utilizado nos blogsSockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-58311295425106174132011-10-23T15:24:00.002+01:002011-10-23T16:28:23.310+01:00A feira dominicalPara se chegar à feira semanal do Cerco, que ocorre aos Domingos,não é dificil.<br />Quem descer pela rua do Cerco do Porto, começa a ver, ainda de muito longe, o arraial. è uma feira dominical por excelência.<br />Começa na junção com a Rua de Alijó, passa em frente do Lar da terceira idade e continua por esta rua até entrocar com a Rua do Peso da Régua.<br />Um pouco antes,passa em frente da Sede /Bar do Clube Desportivo do Cerco.<br />Agora que já cá está, digam-melá: Foi dificil cá chegar?<br />Esta feira tem de tudo.<br />Logo no inicio, a ocupar uma boa parte da faixa descxendente da rua, existia no segundo Dominho de Abril de 2007,um estendal de bancadas.<br />Uma delas, exibia calças de ganga.para todos os gostos e preços.<br />Havia-as de bom tecido e acabamento,as esfiapadas, - que estão agora no pico da moda, e as de tons esbranquiçados.<br />Ao lado, a esmo sobre as tábuas da bancada,óculos de sol, estilosos, no pico da moda.<br />Do outro lado, sobre uma bancada muito maior que a dos óculos, era calçado e bem vistoso.<br />Um pouco além, numa outra bancada, eram roupinhas de interior.tanto para adolescentes<br />como para senhoras. Quase encostada a esta, uma outra bancada onde se amontoavam peugas. Montões de peúgas de todas as cores e tamanhos.<br />Baratas. Três pares por um euro.<br />Do lado esquerdo,antes do caminho das escadinhas, eram os CDs, os DVs e os filmes.<br />para todos os estilos e gostos, desde fadunchos a musicais do Tino e Sus Muchachos.<br />Tudo quanto era som e porno.<br />Um mundo a escolher, e coisa barata, por cinco euros comprava cinco!...<br />Depois do tal caminho das escadinhas, eram as frutas e a mercearia. Azeitonas de todas as cores e procedências, enchidos e até hortaliças frequinhas, colhidas na véspera. Até bacalhau demolhado ali estava exposto.<br />Numa rua paralela, a do Pêso da Régua, era a zona do pronto a vestir, não seria da ultima moda, mas era barata e havia muita por onde escolher.<br />Quem tivesse alguns euros disponiveis e não fosse muito exigent...<br />De ambos os lados da Rua de Alijó eram assim, numa extensão de uns duzentos metros, até ao Largo de Sede do Clube. Aqui, neste largo, a exibição era mais aprimorada, pois até os produtos eram de melhor qualidade. Alguns deles, nem pareciam artigos de feira. Também neste largo, pontificavam as ofertas individuais. Não eram permitidas bancadas,apenas as pessoascirandando para cá e para lá apregoavam os mais variados artigos desde as pilhas AA - oito por um euro - recargas para telemoveis, capas para passes de autocarro e outros documentos e, quando o tempo ameaçava chuva ou ameaçava chover, eram também guarda chuvas, braçadas deles, até dos de doze varas lá havia!...<br />Numa rua transversal, rente à fachada do Clube,o cenário era semelhante. Apernas uma diferença; o calçado aqui exposto era de muito boa qualidade. Era produto mais caro do que qualquer outro da feira, mas na baixa portuense não se encontraria melhor.<br />Entre este largo e a Rua do Peso da Régua, acho que é justo destacar uma bancada<br />Era um, TEM TUDO.<br />Foi nesta bancada que eu, depois de muita exitação, decidi comprar duas joelheiras e uma cotoveleira, Cada perça um euro.<br />Eu comprei o par das joelheiras porque quis, porque uma senhora que presenciava a minha escolha ainda me perguntou: O senhor vai usar as duas ou tem apenas um joelho doente? Se quiser eu posso ficar com uma!..Foi com um sorriso que lhe disse que iria adquirir as duas, enquanto acrescentava; elas são tão baratas!...<br />Foram de facto baratas, mas não eram grande coisa. Com pouco mais de um mês de uso já nem ao joelho se aconchegavam.<br />Na primeira travessa por onde já passáramos, a tal das escadinhas, já lá tinha comprado duas coisas noutra ocasião:<br />Um porta notas que, com algum dinheiro deixei esquecido num WC do Parque Nascente e duas lâmpadas de baixo consumo. Ambas de rosca, mas uma de casquilho normal e a outra de tamanho mignon.<br />Seduzi-me, porque acabavam de aparecer no mercadon e não me pareceram caras.<br />Apenas uma delas, não funcionava.<br />Mas, também é verdade que ningúem mo obrigou a comprá-las.Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-91252654979089897212008-06-14T13:24:00.002+01:002008-06-14T13:51:32.975+01:00A dança croataÉ impensável aceitar qualquer deliberado propósito do professor para pôr à prova o que quer que fosse e, muito menos, os sentimentos dos seus pupilos, quando decidiu <br />que eles mudassem de par.A movimentada dança fazia parte de um número do folclore<br />croata em que as damas e os cavalheiros,em filas frontais, se tinham de colocar de braço dado, enquanto volteavam pelo palco.Inicialmente era escolhido um par mas,<br />quando o número fosse repetido,apenas por exigência coreográfica,a dama teria que<br />ser trocada.Tudo isto era inocente e tanto a dama como o cavalheiro eram livres de<br />escolher o par que quizessem.Feita a primeira repetição do ensaio,certa dama,antes<br />do sinal de arranque avançou e, de imediato,agarrou o braço do cavalheiro com quem<br />tinha já dançado.À parte pequenos aceitáveis desacertos,todos os pares se portaram<br />bem,porém, a professora, decidiu insistir, repetindo o ensaio.Toda a gente se posicionou nos seus devidos lugares.Contudo,antes do sinal de arranque, já a certa<br />dama estava novamente agarrada ao braço do seu anterior parceiro.<br />Certamente que ninguém deu importância ao sucedido,apenas o marido da dama,exclamou<br />aparentemente agastado: Não vale escolher sempre o mesmo parceiro!...Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-2394871326181128412008-06-13T18:21:00.004+01:002008-06-14T09:40:10.962+01:00Cabelos negrosNaquela fria e cinzenta tarde de Domingo quando ele chegou à fila para tomar o autocarro, já lá estavam umas quinze pessoas.<br />Na fila, à sua frente,postava-se uma agradável figura de mulher.<br />Cheirosa,mais ou menos da sua estatura...sapatos pretos de salto alto...e dona dos<br />mais belos cabelos negros que os seus olhos jamais viram.<br />Como seria o seu rosto?<br /><br />Inclinou-se um pouco.O perfil era também agradável.<br />Aproximou-se um pouco mais e,perto da sua nuca murmurou...<br />É natural a cor dos seus maravilhosos cabelos?<br />Após uma breve pausa,para seu espanto, ela respondeu: Não...são pintados...<br />São uma maravilha; disse ele.<br />A dama excitou-se; voltou ligeiramente o rosto e, esboçando um adorável sorriso,<br />respondeu: Muito obrigada...<br /><br />O autocarro, entretanto, chegara e as pessoas foram entrando até que chegou a vez da dama dos cabelos negros. Ele, que a seguia, sentou-se a seu lado.<br />Tendo por tema os negros cabelos,foi fácil o arranque do diálogo e, sem demora se<br />estabeleceu a "comunicação". E, quando pouco depois,ele,preparando-se para sair do autocarro lhe perguntou; não quer sair também; não admirou que ela,sem nada dizer,se<br />levantasse também para sair.<br /><br />Sentaram-se na primeira pastelaria que encontraram.<br />Conversaram...conversaram...e então ele arriscou; permite-me que afague os seus cabelos? Ela sorriu, e com um ligeiro inclinar da cabeça "disse" que sim.<br />Estava derrubada a ultma barreira.<br /><br />Horas depois,quando a matutina alva já despontava no horizonte,ela saiu.<br />Segundos depois,ele,pousando as chaves do aposento sobre o balcão da recepção saiu também.<br />Um táxi os aguardava.Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-45954611178891122012008-06-12T11:30:00.003+01:002008-06-12T13:13:06.481+01:00A hortinhaNo decurso da minhas matutinas digressões,já tinha passado muitas vezes por aquele<br />quintalinho.Quando muito,a sua área andaria pelos cem metros quadrados.<br />Eu não percebo nada de agricultura, mas gosto de ver coisas bem feitas.<br />Aquela hortinha, tinha um pouco de quáse tudo; Couves galegas (as do caldo verde),<br />couves pencas, vagens ( que lá pela capital chamam de feijão verde),cebolas ,alhos...<br />Via-se que tudo tinha sido feito com muito agrado.<br />Naquele dia parei.<br />Parei, porque o autor de tão asseada horta, estava à vista.<br />Mas não estava a trabalhar na sua horta...encostado ao longo cabo da sua sachola estava a contemplá-la!...<br />Dei-lhe os parabéns e os seus "agradecimentos" duraram mais de uma hora a ser-me dados. O hortelão, tinha fome de falar da sua obra.<br />Comecei a trabalhar na terra, diz-me ele,quando tinha dez anos.Mas não eram terras<br />deste tamanho!...eram terras enormes, que levavam meses a amanhar...<br />Trabalhei muitos, muitos anos...sempre gostei do que faço...<br />Fez uma pausa e mudou de assunto.<br />Aqui há uns bons anos, eu sempre urinei muito bem,o meu rim direito começou a asnear.<br />Passei a ser tratado no Hospital de S.João. Os senhores doutores, de tanto andarem à <br />volta de mim,resolveram tirá-lo...eu ainda lhes perguntei;Estava ruim o meu rim senhor doutor? Ruim ?! respondeu ele,estava bom para dar ao gato!...E tenha cuidado,<br />porque o outro rim, o que ainda está bom, tem cinco anos para lhe provar que consegue<br />fazer sozinho o seu trabalho...Eu bem percebi o que eles queriam dizer com aquilo...<br />Agora, voltou a mudar de assunto,o que me anda a afligir é a coluna!...<br />Agarrado à cintura, enquanto fazia uma careta,acrescentou;A sachola já pesa muito...<br />em cima dos meus oitenta e três...<br />Eu,que tinha de completar o meu pedestre giro,fiz menção de me despedir mas, o hortelão não consentiu ao perguntar; e você,quantos anos tem?<br />Lá lhe disse a minha idade.<br />Torceu ligeiramente o pescoço, dizendo: Não está mal, não senhor...<br />Fez uma pausa, para depois dizer; Olhe senhor, eu não sei a sua graça, mas tenho que<br />lhe dizer uma coisa...nunca ninguém tinha gabado tanto a minha horta...muito obrigado.<br />O nó da sua garganta,moveu-se.<br />Para disfarçar,tossiu...<br />Depois,com um enorme lenço vermelho,sonoramente,fingiu que assoava o nariz...Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-56728196544473039992008-05-15T15:26:00.004+01:002008-05-18T12:47:25.470+01:00EvocaçãoA Rua de Vila Meã, onde eu nasci em 1923, era uma rua pacata.<br />Começava na super arborizada Praça da Corujeira e terminava na passagem de nível.<br />Do outro lado da linha era a fábrica da resina, designada por Resineira. Foi a sirene desta fábrica, relógio dos seus trabalhadores, que comandou durante muitos anos a vida dos residentes das redondezas.<br />E foi a menos de cem metros da Resineira, na Rua do Godim, que a minha vida deu um tombo, quando encontrei, caído na calçada, um rolinho de papel de jornal contendo vinte moedas de prata de dez escudos. Mas, este acontecimento, faz parte de outra história.<br />Mesmo junto à linha dos comboios, à direita de quem segue para a Corujeira, era a Quinta do Mitra, hoje esventrada pelos acessos à VCI. Um pouco mais à frente, mas do lado esquerdo,os domínios dos Ferreira dos Santos.<br />O terreno da casa onde eu nasci, confinava a Sul com uns campos de semeadura dos ditos Ferreira dos Santos. Apenas um ribeirito, com águas vindas do Matadouro Municipal, separava os dois terrenos.<br /><br />Um pouco mais à frente, mas do lado esquerdo, um pequeno aglomerado de muito humildes casitas. No galinheiro de uma delas, enforcou-se, sentado, o Hermínio.<br />Mais acima, era a nossa mercearia.<br />Como o seu dono era casado com uma filha dos donos da Quinta do Mitra, as pessoas chamavam-lhe a Loja do Mitra.<br />Dez metros acima, moravam os Guedes.<br />Era gente de posses, que não se mostrava muito aos mortais lá do sitio, mas eram muito educados. O chefe da casa, era Inspector dos Caminhos de Ferro e passava mais tempo na Bélgica do que em casa. Ele era o Delegado da CP, na aquisição de locomotivas.<br /><br />Em frente dos Guedes, era a nossa casa.<br />Quando eu nasci, a nossa casa era, a Sul, encostada a outras casas e, por isso, recebia muito pouco sol, e como a minha irmã Francelina tinha problemas pulmonares, o seu médico, sempre que podia, pressionava o meu Pai para que construisse outra casa, ao lado, mais solarenga.<br />Isso, dizia o médico, pode ser a salvação da sua filha!...<br /><br />O meu Pai era um génio... Assim; logo que as finanças domésticas o permitiram- estavamos em 1934 - deu-se início à construção. Foi uma tarefa gigantesca.<br />Naquele tempo, à mesa, eramos doze!...<br />Toda a gente, fosse homem ou mulher, trabalhou para a nova casa...<br />A casa ainda lá está. Mudou de donos, e o seu enorme terreno foi sugado para garagem dos transportes colectivos.<br /><br />Ao lado da nossa casa, era a casa do irmão mais velho do meu Pai, o Tio da pêra.<br />Encostada a esta, a Norte, era a casa dos Carroças.<br />Este prédio era de lºandar, tal como o nosso e o dos Guedes.<br />Já perto da Praça da Corujeira, era o carvoeiro Rocha. Além de carvão- de choça e de pedra- também vendia petróleo e azeite.<br />Em frente à carvoaria, era a casa onde, nos anos sessenta, viveu o doutor Mauricio Esteves Pereira Pinto, que viria a emprestar o seu nome, à minha velhinha Rua de Vila Meã.<br /><br />Em frente à loja dos Rochas, era a Escola Infantil.<br />Lembro com muita saudade, a Dona Mimi, a minha educadora. Foi nesta Escola que aprendi as primeiras letras e fiz a aprendizagem cantada da tabuada...<br />Estou a ver-me e a ouvir-me, com a chuva a tamborilar nas vidraças e a miudagem, cantando:Dois vezum...dois, dois vez dois...quatro, três vez três...nove...<br />Esta, "era" a rua onde eu nasci.<br /><br />PS- A minha irmã Francelina, morreu de velhice.<br /> Valeu-lhe a sabedoria do meu Pai e, quiçá, o sacrificio de todos os seus irmãos.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div><br /><div align="justify"> </div>Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-72951662935191350132008-05-14T17:59:00.003+01:002008-05-14T21:13:42.312+01:00A PepsiCerto dia, o Jorge, o nosso filho mais velho, levou para casa uma cadelinha muito bonita e apenas com alguns dias de vida. A Mãe do Jorge, sobre quem recairiam as futuras tarefas de olhar pela bicha, não concordou muito com a adopção, mas o trio, Jorge+Kekas+Nita,tanta força fizeram que a cadelinha ficou. Ficou e foi muito feliz até um pouco antes de morrer, como veremos adiante. Era "raçada" de Setter com Bulldog, cor acastanhada e riscas transversais mais escuras.<br />Com o rodar dos tempos, tornou-se o centro das atenções de toda a família e da pequenada lá do sítio.Por proposta do Jorge, que foi aceite unânimemente, passou a chamar-se Pepsi, uma bebida adocicada, acabada de ser lançada no mercado,no fim dos anos cinquenta.<br />À tal cadela, só lhe faltava falar. Mas ela nem precisava disso...já que ela e a sua dona e tratadora entendiam-se tão bem, que era uma maravilha apreciar.<br />A casa onde agora a Pepsi morava, situava-se a poucos metros do mar e, talvez por isso, a Pepsi nadava que era um encanto. Nadava tão bem que a pequenada nossa vizinha afastava-se, mar dentro e depois, fingindo afogar-se, gritavam pelo seu nome... e a inocente Pepsi lá ia socorrê-los.<br />Os marotos agarravam-se-lhe ao rabo e vinham de boleia até à praia.<br />É claro que a malta tantas fez, que a Pepsi passou a ignorar os pedidos de socorro, deixando- se ficar magestáticamente sentada na praia...a olhar o mar.<br /><br />Foram inúmeras as cenas de que fui protagonista, eivadas de defeitos e virtudes, mas, cá para mim, e porque se tratava de um canino, ela tinha mais virtudes que defeitos.<br />Era glutona, mas portava-se à "sua" mesa, com muita dignidade.<br />Como todos os da sua raça, gostava muito de carne mas, antes que a pudesse comer era preciso dar-lhe expressa autorização e, enquanto tal ordem lhe não fosse dada, sentava-se sobre os quartos trazeiros e, de olhar fixo no prato da carne, desfazia-se em baba...metia dó.<br />É claro que jamais a desiludimos; depois de cada suplicio, ganhava invariávelmente o seu quinhão.<br />Em certos "períodos" tinhamos mais cuidados com ela, pois não queriamos que tivesse filhos, mas, um dia, enquanto o seu guardião e dono, desatento, lia um livro à sombra de uma das duas belas mangueiras que adornadavam o nosso quintal, um belo e grande cão "parece-me que o dos nossos vizinhos Hortas" cobriu-a.<br />Toda a gente acompanhou a sua gravidez e o parto.<br />Depois, quando a ninhada nasceu, cometemos a barbaridade que a tradição recomendava, eliminando parte da ninhada.<br />A Pepsi, impotente, assistiu à eliminação, mas acho que é bom que todos saibam que a pessoa que executou tal tarefa nunca mais pôde entrar no nosso quintal sem ser agredida pela Pepsi.<br /><br />Tal quintal, muito agradável de desfrutar, tinha uma caracteristica negativa...estava à mercê de lacraus vindos das travessas de madeira existentes sob os carris da via férrea proxima.<br />Um dia, a sua dona, perseguiu um deles com uma vassoura, mas não conseguiu matá-lo e o bicho desapareceu. A Pepsi, como era seu timbre, acompanhou com todo o interesse esta cena.<br />Mais tarde, já depois de recolhidos, ouvimos a Pepsi ganir estridentemente.<br />Céleres, ainda pudemos ver a escapulir-se, um enorme e negro lacrau. A Pepsi, deitava sobre o cimento, gania e espumava abundantemente.<br /><br />Era evidente que o lacrau a tinha picado.<br />Imediatamente solicitamos os favores do nosso amigo e enfermeiro Armindo, que agiu de imediato. Depois da inoculação de um anti-veneno e de um sedativo, a Pepsi ficou alimentada a soro...portando-se com todo o brio.<br />Mimada, olhava-nos como se nos pedisse compaixão pela sua dor...<br />Depois, durante a convalescença e porque passava a maior parte do tempo deitada, passamos a dar-lhe de beber a água através de uma chávena...ela, mantendo-se deitada punha a lingua de lado para a sorver.<br />Mais tarde, já completamente recuperada, a Pepsi apenas bebia àgua pela "sua"chávena.<br /><br />Entretanto; os tempos mudaram.<br />Surgiram os inevitáveis ventos da libertação que arruinaram o respeito, a disciplina e a ordem.<br />A Pepsi, que cumprira com todo o empenho a sua missão, apareceu, certa manhã, morta.<br />Alguém, durante a noite, a envenenara.<br /><br />Não sei para onde irá a "alma" dos cães, mas eu gostaria que ela soubesse que ainda hoje, decorridos que são quarenta anos depois da sua morte, ainda a recordamos com a gratidão que ela sempre fez por merecer.<br /><br />Porto, 06.06.06<br /><br />,Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-38663612182094143252008-04-24T13:58:00.002+01:002008-04-24T15:26:40.656+01:00Ai, Eugénia!...Naquele dia,o doutor Rodrigo Leão não se sentia muito bem.<br /><br />Já na véspera,tinha sentido ligeira tremura no corpo e uma pontinha de febre.<br />Não deu importância.De madrugada,quando acordou,estava em brasa.<br />Mediu. Quase trinta e nove.<br />Como pôde,ligou à recepção para que lhe chamassem o seu médico.<br />Pediu ainda que ligassem para a doutora Eugénia Leal, a informar o seu estado.<br /><br />A doutora Eugénia, sua namorada,chegou primeiro.<br />Quando,uma hora depois chegou o médico,já o doutor Rodrigo ardia em febre.<br />Passava dos quarenta graus!...Já não dizia coisa com coisa.<br />Ele próprio,aplicou ao doente uma injecção e entregou ao gerente do hotel a<br />prescrição dos remédios que o doente deveria tomar.<br />Entendeu ainda o médico que a doutora Eugénia deveria retirar-se. Era um risco<br />manter-se ali.Porém,a doutora Eugénia, não foi capaz.<br />Todos os dias visitava o seu namorado.<br />Por vezes,já o dia rompia,quando regressava a sua casa.<br /><br />O jovem doutor Rodrigo Leão era advogado.Tinha consultário na baixa e por não<br />ter família naquela cidade,tinha preferido alojar-se num hotel.<br />Deste modo, tinha quase tudo ao seu dispor.<br />Porém,a sua confidente e namorada,a doutora Eugénia,era o esteio da sua vida.<br /><br />Durante três dias,febres altas minaram as forças do doutor Rodrigo.<br />Ao quarto dia começaram a ceder.<br />Agora,no quinto dia,a febre tinha desaparecido completamente e a juventude do<br />doutor Rodrigo começava a impor-se.<br />Ainda trémulo,ergueu-se.Enfiou o roupão e deu uma passadas pelo quarto.<br />Olhou-se ao espelho e sorriu.Estava a recompor-se.<br />Ligou para a recepção e pediu alguma coisa para comer.Soube-lhe bem.<br />Meteu-se novamente na cama...respirou fundo.<br /><br />Foi a porta do quarto,ao abrir,que o acordou. Era o empregado do hotel que, fiel<br />desde há quatro dias, vinha tratar da sua higiene,ministrar-lhe os remédios e<br />alimentá-lo.Era já quase meio dia.<br />Pelas treze,trouxeram-lhe o almoço;coisa ligeira.<br />Deitou-se sobre a cama,piscou duas ou três vezes e voltou a dormitar.<br /><br />Acordou,já perto das cinco,com um beijo da sua namorada, que lhe perguntava:<br />Como passa,desde ontem,o meu amor?<br />Puxou uma cadeira e sentou-se junto à cabeceira.Seus joelhos roçavam a cama quando<br />amorosamente afagava o rosto de Rodrigo.<br />Ele mimado,e poisando uma mão sobre um joelho da Eugénia,sussurrou:<br />Agora,muito bem...já lá vai o mal.<br />O que a Eugénia leu,nos olhos dele,obrigou-a a erguer-se.<br />Afastou-se um pouco da cama...deu galantemente uma volta e perguntou: Gostas?<br />A Eugénia,vestindo uma camisolinha azul claro e um coletinho enfeitado com renda <br />e saia plissada da cintura para baixo,estava deslumbrante.<br />Ele,com a cabeça, disse que sim. Depois,com um gesto,chamou-a...<br />Ela,também com um gesto,disse que não...<br />Ele insistiu...Ela resistiu...<br />Ele,agitado,suspirou exclamando: Ai,Eugénia!...Eugénia!...<br /><br />Era evidente que o jóvem Rodrigo Leão estava a recuperar a forma...Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-21716022293380305742008-04-12T10:42:00.002+01:002008-04-12T12:08:44.941+01:00A"netinha"À porta principal do Infantário,uma garota,depois de tocar a campaínha, chamava: Senhora...Senhora...está um cãozinho muito pequenino debaixo do carro da senhora!...Foram ver.<br />Era uma bolinha de cor negra,a gemer, e a procurar ávidamente uma teta. O primeiro impulso da Dona Anabela,foi o da rejeição,quando pensou: Não quero cães lá em casa...<br />Eu nem sequer tenho onde os pôr!...<br />Depois,sopesando na mão esquerda a esfomeada bolinha de carne...deixou escapar; só se<br />fosse na varanda!...<br />À noitinha,em casa, falou com os seus dois filhotes.<br />Pronto.A bichinha, era uma fêmea,já tinha lar.Todos concordaram que o território da<br />bichinha,seria o da varanda das traseiras.<br />Depois,foi preciso baptizar o novo membro da família e, de nome em nome,lembrou-se a Dona Anabela, da cadela de estimação que mais de trinta anos antes os seus pais tiveram no Lobito, em Angola,que alguém estimulado pelos ventos da libertação envenenara.Lembrou-se depois de outra cadela que um seu irmão tivera em Olhão, e que<br />deixou saudade a todos quantos com ela lidaram, e a quem, em homenagem à cadela do Lobito, também chamavam de PEPSI.<br />E porque não?<br />À de Olhão,chamava-lhe a sua dona, por graça, de "neta"- daí o nome deste apontamento- tal era o carinho que lhe dispensavam.<br />Estava decidido.Passariam a chamar-lhe também Pepsi.<br /><br />Esta,adorava os seus donos,especialmente a sua dona. Era a sua sombra.<br />Agia como gente...<br /><br />Um dia, a sua dona resolveu levá-la a passear para o Parque da Cidade,<br />Sentadas,a dona num banco do jardim e a Pepsi na relva,viam os patinhos voltear no lago.<br />Ali pertinho,sentado sobre uma grande pedra de adorno da relva,um sujeito comtemplava<br />também o edílico cenário.<br /><br />Pouco tempo depois,o sujeito,dirigindo-se à Dona Anabela e enquanto exibia de relance<br />o seu crachá,diz-lhe: Pode fazer o favor de me mostrar os documentos do animal?<br />A dona da Pepsi estava tramada.<br />---infringiu o disposto do nº3,do nº2,e da alínea a) do nº1,todas as alíneas do Artº<br />14 do Dec.Lei nº 314/2003 de 17 de Dez.<br />E,apesar de nos autos constar que:<br />---"na verdade,a conduta da arguida merece apenas um pequeno nível de reparo pois<br />desconhecia a ilicitude da sua conduta e nunca o seu canídeo causou qualquer dano, ao<br />circular pela via pública".<br />Em consequência são lhe aplicadas, através da Junta da Freguesia de Rio Tinto, as<br />seguintes multas:<br />a) - Uma coima no valor de 100€,pela falta da licença do canídeo de raça indeterminada;<br />b) - Uma coima no valor de 100€,pela falta do registo do canídeo de raça indeterminada.<br /><br />Isto,para um canídeo que até já foi premiado num certame em que interveio a Junta da<br />Freguesia de Rio tinto,foi duro...Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-5996739833312691662008-03-27T15:39:00.002+00:002008-03-27T17:39:15.320+00:00A LuaNaquele Setembro,para variar,o grupinho dos cinco,iria ter a companhia do sobrinho/<br />afilhado Jorge,que lhes pedira insistentemente para os acompanhar.<br />Iriam acampar um pouco por todo o país.Assim,no dia aprazado,ainda o sol nascia e já<br />eles estavam na estrada.A bordo,reinava a alegria e a boa disposição.<br />Os primos de lá -Angola- gosavam o primo de cá. Ele,o primo de cá,lorpa de aparência,<br />não tinha nada de parvo.Dava-nos cada resposta que nos punha de boca aberta...<br />Naquele tempo,ainda não havia auto-estradas.Por isso,seguiamos pela velhinha EN1,e foi algures à margem desta via que tomamos o pequeno almoço.<br />Perto do meio-dia,já com os estômagos a protestar,paramos para almoçar.<br />O restaurante não tinha grande aspecto e,por isso,só eu desci.Fui investigar.<br />Olhei em redor.Três pequenas mesitas,com toalhas garridas...modesto,mas limpo.<br />Aproximou-se de mim,do lado de fora do balcão,uma alentejana ainda jóvem,de lenço<br />garrido sobre a cabeça.Foi sorrindo que perguntou;Que vai o meu senhor querer? Nós<br />somos seis,respondi:Dois adultos e quatro jóvens...será que podemos almoçar?<br />Se podem almoçar? Claro que podem,nós estavamos à vossa espera...Ela própria assomou<br />à porta da rua e,acenando para o nosso automovel exclamou:venham...podem vir...há<br />lugar para todos!...<br />Tivemos sorte ao parar ali.<br />Comemos de tudo um pouco.Porém,como aquilo era uma taberna,a nossa refeição foi à base de petistos. E que petiscos!?...<br />Ainda hoje,que os jóvens já são Avós,falamos deste almoço...Até do preço temos saudades!...Seis pessoas comeram e beberam,por pouco mais de trinta escudos!...<br />E o remate!? Quando lhe estendi as duas notas de vinte e lhe disse para guardar o troco,já não me deixou sair sem provar um cálice do "seu" medronho...<br />Fomos armar a tenda em Lagos.<br />Dormimos junto da praia,uns quase em cima dos outros,mas...muito felizes.<br />Ao levantar,como bons provincianos,fomos molhar os pés...é que nem tudo lembra...e nós não tinhamos levado fatos de banho.<br />Tomamos o pequeno almoço por ali.Depois,ao longo da EN125,fomos parar a Vila Real de<br />Santo António,onde fizemos uma grande pausa.<br />Todos quizeram ir a Espanha...era só atravessar o rio!...Mas não pudemos ir todos.<br />Os dois rapazes mais velhos não puderam ir...é que eles poderiam dar o "salto"para<br />fugir à tropa...em Angola,havia guerra...<br />Por isso,apenas foram ao outro lado; a miúda angolana,o sobrinho/afilhado e o casal de adultos.<br />Foi aqui,no regresso da ida ao outro lado,que aconteceu a história da Lua.<br />A noite estava limpida,linda.O belo circulo da Lua exibia-se lá do alto...o nosso<br />sobrinho,olhando-a do outro lado,exclamou:Ó padrinho,aquela é a Lua espanhola,não é?<br />Fomos armar a tenda em Monte Gordo.Os mosquitos não pararam de nos apoquentar.<br />Definidos os azimutes,decidimos ir dormir a Viseu e lá fomos serra acima.<br />Quando a miudagem começou a ficar inquieta,paramos no primeiro restaurante que nos<br />apareceu à beira da estrada.Azar nosso!...<br />Com que saudades recordamos a tasquinha alentejana!...Apetecia chorar.<br />Talvez por isso,o céu também desatou a chorar...<br />De tenda armada no parque do Fontelo,em Viseu,ninguém conseguia dormir...chovia mais<br />dentro da tenda do que na rua...<br />Só nos restou guardar e encafuar no automóvel todos os trastes e correr para a cidade<br />da Guarda onde,alugando um Bungaló,pudemos descansar o resto da noite.<br />Quando amanheceu,o sol raiava de novo.Os encartados campistas amadores,que trouxeram para o "campo" uma tenda de "praia",puseram todos os panos a secar ao sol...<br />Fazia lembrar um arraial de ciganos.Porém; todos muito bem dispostos.<br />Esta imprevista paragem na Guarda,teve duas virtudes:A oportunidade de visitar o Castelo de Belmonte e ainda o de abraçar um saudoso amigo que,por aposentação,deixara<br />Angola alguns anos antes.<br />O Alvaro Nascimento e a sua simpática esposa,receberam-nos com todo o carinho.<br />A refeição que nos obrigaram a aceitar,ainda hoje é gratamente recordada.Veja-se:<br />Pão de centeio,acabado de sair do forno.Uma perna de presunto para retalhar.Um enorme<br />queijo da serra,devidamente entrapado e,vinho da própria lavra...um sonho.<br />Aos jóvens,foi-lhes oferecida uma sopinha caseira que cheirava que era uma delícia,<br />mas ninguém os conseguiu convencer das vantagens da sopinha...<br />Excepto no vinho da própria lavra,toda a gente alinhou na receita dos adultos.<br />Depois da despedida,rumamos para o Nordeste.Mais uma vez tivemos de corrigir a rota.<br />A chuva voltou a cair.<br />Estavamos em Vila ,Real e decorria ali uma Feira de divulgação dos vinhos verdes daquela região.<br />Porque a chuva se impôs,a nossa digressão terminou ali.<br />Mas,durante umas boas semanas,em casa, no Porto,apenas se bebeu verde de Vila Real.Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-16410149136176096962008-03-26T11:34:00.003+00:002008-03-26T14:37:42.910+00:00O cabideNaquela fria manhã de Janeiro,junto ao portão nascente do Tribunal de Gondomar,havia grande alarido.Gente p'ra trás e p'ra a frente,cadernos de notas à mão,câmaras de filmar e muitos jornalistas.<br />Não resisti e perguntei a um daqueles azafamados portadores de cadernos de notas:<br />desculpe; a que se deve todo este cenário?<br />O jornalista sorriu, e respondeu: é o apito dourado,amigo!...vem aí o Valentim...<br />Eu,estava esclarecido.<br />Subi as escadas e fui para o hall, onde muitas pessoas aguardavam ser chamadas para <br />intervir nos mais diversos julgamentos.<br />Para matar o tempo,fui-me entretendo a ler os vários documentos afixados.<br />Entretanto,surgiu-me a necessidade de usar os sanitários. <br />Quando me preparava para o acto,verifiquei que nada havia onde eu pudesse pendurar o<br />sobretudo...foi uma situação caricata que me dispenso de descrever.<br />Aliviado da tripa,decidi agir.Dirigi-me a um segurança e perguntei-lhe onde poderia apresentar uma reclamação.Apontou para um guiché.Lá fui.<br />Nisto,ouvi grande alarido.<br />Era o senhor Major que chegava;discreto.Apenas duas ou três pessoas o acompanhavam.<br />Chegado ao guiché,pedi: Por favor...alguém lá do fundo da grande sala,perguntou: o que pretende? Fazer uma reclamação,respondi.<br />Reclamação!?...Que reclamação!?...Quero fazer uma reclamação no livro próprio.<br />O homem fez uma cara de espanto e arreganhando a queixada olhou para os seus colegas<br />e respondeu-me dizendo:O livro está na Secretaria Geral.Terceiro guiché, aqui deste<br />lado. Agradeci e fui.<br />Atendeu-me a Dona Aurora.O que pretende,disse:Pretendo que seja accionada a accão necessária para que seja instalado um cabide no interior do WC dos homens e quero registar esta minha pretensão no livro de reclamações.<br />A Dona Aurora estava perplexa!...<br />O Senhor quer que seja instalado um cabide na porta do WC dos homens!?...<br />Sim,minha Senhora.<br />A Dona Aurora,inquieta,desabafou:O Senhor faz ideia do trabalhão que vai dar,a tanta<br />gente, se escrever isso no livro?...Olhe que temos de mandar uma data de cópias para<br />tanta gente que o Senhor nem imagina!...Olhe que o livro ainda está em branco!...<br />Desolada,a Dona Aurora voltou a desabafar:Até hoje,ninguém reclamou nada!...<br />Eu,já com alguma pena da Dona Aurora,insisti: Mas,minha senhora; é apenas um simples cabide...uma coisita de metal ou até de plástico...que custa poucos centimos!...<br />A Dona Aurora,já arisca,ripostou: O Senhor sabia que nós,neste Tribunal,não dispomos de qualquer verba,seja para o que for!...Aqui, falta tudo...não temos dinheiro para<br />nada...<br />Depois,em tom de súplica,insistiu:O Senhor,continua a querer o livro de reclamações?<br />Fiz uma pausa,para depois exclamar;Desisto,minha Senhora,não quero tão grande peso na minha consciência...<br />A Dona Aurora,reconhecida,baixou o seu tom de voz para dizer: Não há dinheiro,mas eu<br />prometo que,quando cá voltar,irá encontrar fixado,do lado de dentro da porta do WC dos homens,um cabide.Nem que tenha de o pagar do meu bolso!...<br /><br />Ainda há gente de palavra neste mundo...<br />Dias depois,de propósito,fui lá ver.<br /><br />O cabide já lá estava.Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7125011052322797300.post-68280401484690093142008-03-18T18:05:00.003+00:002008-03-22T16:16:06.127+00:00Mão amigaSob o alvo lençol que o cobria, o paciente estava nú.<br /><div align="justify">Deitado na marqueza, já sob as potentes luzes da sala de operações e sobretudo devido ao efeito da anestesia, pairava no ambiente que o rodeava, uma extraordinária leveza, apenas afectada pela ansiedade de saber como ficariam os seus olhos, depois da intervenção às cataratas que estava para lhe acontecer.</div><div align="justify">Iam "tratar-lhe" do olho esquerdo.</div><div align="justify">O direito, seria tratado depois, de acordo com o comportamento do esquerdo.</div><div align="justify">Alguém poisou uma qualquer cobertura sobre o rosto do paciente, depois de lhe terem fixado a cabeça à cama, para que não pudesse movê-la.</div><div align="justify">Depois, cada vez mais atordoado, sentiu que lhe descobriam o olho a intervencionar. Era uma luz intensissima, que o olho interpretou como semelhante ao sinal aritmético de igual: dois tracinhos paralelos, de cores incandescentes.</div><div align="justify">O paciente ouvia todos os sons à sua volta e raciocinava perfeitamente. Pelo menos assim supunha, pois...pensando melhor...um tanto atordoadamente.</div><div align="justify">Mas sentia remexer no interior do olho...não sentia dor, apenas uma desagradável sensação, acompanhada de um odor que ele não conseguia classificar...</div><div align="justify">A quê?...a queimado ?...</div><div align="justify">O cristalino do seu olho esquerdo, depois de destruído pelo lazer, estava agora a ser sugado.</div><div align="justify">O paciente ouvia perfeitamente o silvar do pequeno, mas eficiente, aspirador.</div><div align="justify">Ainda conseguiu ouvir a voz de alguém, ao dizer: Ainda há ali um pedacito...E outra voz replicar:</div><div align="justify">Estou a vê-lo perfeitamente...para logo acrescentar; Pronto, já saiu, já está limpinho...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Foi por esta altura que sentiu "qualquer coisa" tocar-lhe na coxa esquerda...algo que se movia...</div><div align="justify">Depois, foi a sua mão esquerda, postada ao longo do seu corpo, que foi tocada...</div><div align="justify">Outra mão, tacteando, procurava a sua mão... Encontrou-a, tocou-lhe ligeiramente...depois, a intrusa mão, encaixou-se com a mão do paciente...envolveu-a, sedosa e meigamente...</div><div align="justify">A mão anestesiada, agradeceu a esmola daquele carinho e, tanto quanto pode, apertou aquela mão amiga. Não sentiu, depois disto, nada mais...</div><div align="justify">Bendita mão.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Voltou a ouvir, algum tempo depois, uma das vozes dizer:</div><div align="justify">Pronto, acabou, ficou excelente...está pronto para outra...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">A mão, separou-se então da mão dormente... que, ficou com pena...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Duas horas depois, o paciente, já vestido e pronto para regressar a sua casa, ainda sentia na sua mão esquerda, a suavidade daquele toque, daquela mão amiga...</div>Sockfikshttp://www.blogger.com/profile/07127397788450187672noreply@blogger.com0