sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Passe bem...

No bolhão,a fila para o 94,já era longa. À minha frente estavam algumas vinte.
Ao meu lado,na fila,postara-se uma senhora que se manifestava contra todos aqueles que tinham a mania de passar à frente dos que já estavam na fila a esperar.
Um pouco à frente,um homem de cabeça descoberta -estavamos em Janeiro- e cachecol
enrolado no pescoço,tentava caracterizar o perfil de um carteirista.
Todas as conversas terminaram quando o 94 chegou.Toda agente procurou,ligeirinho,
ocupar o seu lugar.Por acaso,a senhora que estava a meu lado na fila,era novamente
minha companheira, mas desta vez sentada.
A partir da Corujeira,começaram a entrar muita mulheres com grandes ramos de flores.
Questionada,a minha companheira logo informou que por ser tarde de quinta feira,o
mercado das flores tinha muito movimento,já que pelo fim da tarde os comerciantes vendiam as flores ao preço de saldo,já que, no dia seguinte,meio murchas,as flores já não seriam vendáveis.Assim, nesta conversa meio mole,fui-me preparando para sair.
Ergui-me e pedi licença à minha companheira para passar.Ela deu um geitinho ao corpo,
enquanto me dizia; Passe bem.
Já comigo apeado,o 94,retomando a sua marcha a caminho de Valongo,passou por mim.
A minha ex-companheira,através da vidraça,disse-me adeus sorrindo.
Já perto da minha casa levei a mão ao bolso à cata das chaves e...tive um sobressalto.A minha carteira não estava no bolso de trás das calças!...
Alguém me tinha roubado a carteira!...

Ainda hoje,decorridos que são mais de dois anos,me custa aceitar que tenha sido a velha senhora!...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A bem amada

Era uma senhora franzina,rosto triste e sem carmim,cabelos longos cor de cinza.
Viúva recente,vivia ainda chorosa a ausência do marido e companheiro de sempre.
Recente era ainda a sua necessidade de ocupação dos tempos livres,já que se apo-
sentara hà menos de um ano. Para os preencher,solicitou a sua inscrição na SOS
Vida.Porém,cedo se viu na necessidade de mudar de ocupação,pois os dramas que
diariamente era obrigada a enfrentar eram de tal ordem,que foi aconselhada pelo
seu médico a abandonar tal tarefa.
Optou por se inscrever numa Universidade Sénior.
Porque a cadeira que escolheu era a de Inteligência Emocional,era frequente ter
de defender os seus pontos de vista sob a pressão resultante da sua viuvez,ela
que fora uma mulher muito bem amada.
Certa vez, o Docente da cadeira,para vincar a necessidade do controlo das emoções
fez ouvir os seus pupilos uma gravação da Maria Bethania, em que esta cantava:

Sei tudo o que o amor,
É capaz de me dar.
Eu sei.Já sofri,
Mas não deixo de amar.

Foi chorosa que a franzina senhora acompanhou,cantando, os dois ultimos versos,mas foi arrebatadamente que concluiu;

Se chorei,
Ou se sofri,
O importante,
É que emoções eu vivi...

Irresistivelmente,todos os presentes a ovacionaram.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A curva


No fim da tarde, com o sol a enfraquecer,o grupinho deu por finda a sua tarde de
praia,junto do farol de Leça.Os quatro- o Martins,os seus dois filhotes e o seu
sobrinho Beto - regressavam a casa no Hillman preto que o Martins,comprara em segunda mão.Seguiam pela marginal em direcção a Campanhã quando,em Massarelos,o
Martins resolveu subir a rua D.Pedro V. Já no cimo da rua,o Hillman começou a so-
luçar até que,por falta de gasolina,parou.
Como puderam,viraram o carro para baixo e logo que o matulão do Beto escorregou e
caiu,verificaram que não o podiam segurar.Por isso,foi com o Martins pendurado na
porta, de mão direita no volante e o punho sobre a buzina,e os dois miudos já a choramingar dentro do carro, que iniciaram a descida.
O sinaleiro,lá em baixo no cruzamento, apercebendo-se da situação,parou o trânsito.
Com o rio à sua frente,o carro deslizava a toda a velocidade. O sinaleiro, à cautela,
afastou-se. Fez bem. O Hillman,chiando, fez a curva a 90 à hora e só parou na subida
da Rua da Restauração.

Com o Martins sentado na borda do passeio,logo um grupo de mirones, tomou conta da situação.Travaram o carro. Um deles deu ao Martins um copo de água. Outros,afagaram os miudos. Um outro, mais sacana, roubou ao Martins o seu belo boné de praia...
Depois,chegou o policia...quiz saber se era precisa alguma coisa...

Esbaforido,chegou depois o Beto,desculpando-se...Oh, meu tio, eu escorreguei!...

Abastecido o carro,foi o regresso a casa, com o Martins a recomendar aos filhotes que nada dissessem aos Avós...Pois sim!... foi a primeira coisa que o mais velho fez
logo que chegou a casa. Aproximou-se do seu ouvido e descarrregou: Oh, Avozinho...
hoje iamos morrendo todos!...

Claro que o Martins teve que contar tudo,tim tim por tim tim.
O seu "velhote" até se benzeu!...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Bombons

Naquele dia,poucos alunos estavam presentes.Resquicios do Carnaval.
Por isso,o docente resolveu dar uma aula diferente.
Propoz que elegessemos um objecto do nosso uso constante e dele fizessemos o devido
elogio.O primeiro escusou-se,alegando não ter nada em mente. O seguinte uma mulher
retirou do pulso o seu relógio e fez dele o mais elogioso discurso.
O terceiro,por acaso marido da dama do relógio,elegeu a sua caneta.
Que aquela era a mesma com que escrevera durante os trinta anos da sua carreira e que, do seu bico, sairam inimaginaveis palavras.Esta caneta, dizia com enfase, é o simbolo da minha vida.
Eis que surge o 4º,que elege o seu caderninho de apontamentos.É aqui,que anoto todos
os meus comentários sobre o que penso e sobre o que oiço.
Aqui,se manifesta toda a minha maneira de ser.Quem quisesse e pudesse,bastaria lê-lo para conhecer a grandesa do meu caracter.Por isso o elegi.
O quinto,uma mulher decidiu eleger a sua agenda de bolso.
Enquanto a erguia dizia:Por necessidade é aqui que anoto rodos os passos que tenho a dar,desde coisas insignificantes ás mais importantes.Eu,acrescentou,sem esta agenda seria uma mulher perdida.
Finalmente o ultimo aluno.Uma mulher que tendo todo o tempo do mundo para pensar no
que poderia dizer,demorou um bom tempo para se manifestar.
Pausadamente,arrancou: Todos sabem que me aposentei recentemente e que graças a Deus
goso de boa saude.Tenho muitos e bons amigos, vivo sem dificuldades e por isso posso
dar-me ao luxo de ter algumas extravagâncias,como por exemplo,o prazer de saborear
bombons.Dito isto,levou a mão à bolsa e sacando dela um punhado de bombons soltou-os
sobre a carteira,enquanto dizia: Se são servidos...