sábado, 24 de novembro de 2007

O Sermão

A urna,carregada por seis amigos de falecido,seguia logo atrás do senhor abade que,
sob o pálio, era acompanhado pelo seu sacristão e por dois jóvens acólitos.
Depois,seguiam os chorosos parentes e muitos amigos.
O falecido era muito querido na aldeia.
No cortejo fúnebre, seguia a banda, da qual em vida, o falecido tinha sido durante
muitos anos o maestro,e o maior dinamizador.
Era uma boa banda. Tinha vinte instrumentos!...
Um tambor,grande e muito grave,ladeado por dois mais pequenos;
Quatro caixas rufadoras e duas trompas;
Quatro trombones, dois clarinetes, três acordeões e um par de saxofones,completavam o conjunto.
E porque o falecido tinha manifestado esse desejo, a banda, durante todo o percurso,
deveria fazer-se ouvir em tom fúnebre apenas até ao portão do cemitério.
Dentro do cemitério,a urna seguiria de carreta e só soaria o bombo.
Em toada muito leve e compassada.

Logo que a urna chegou ao portão,fez-se a mudança para a carreta e, depois do sinal
do senhor abade,o cortejo iniciou a etapa final.
Em compasso muito lento,o bombo fe-se ouvir; bãom...bãom...bãom...

Entretanto,a Mãe do falecido, viúva já na casa doss oitenta e que tinha problemas de saúde,tinha sido conduzida para próximo da cova onde,a seu pedido,ouviria o sermão
fúnebre.
A chorosa senhora,sentada numa cadeira de braços e fazendo deslizar por entre os dedos,as contas do seu rosário,aguardava a chegada do seu único e querido filho, ouvindo, já perto de si o cadenciado...bãom...bãom...bãom...
Rezando,passava em revista os últimos anos da vida do seu querido filho.

As graves batidas do tambor,juntamente com o rilhar das rodas da carreta na áspera
trilha de terra batida,furavam seus ouvidos e chegavam-lhe ao coração.
A velha senhora,sentiu-se perturvada, confusa...
Sua cabeça,tonbou-lhe sobre o peito...
Os sons, chegavam-lhe agora muitos lentos, suaves, etéreos...
Bãom.............bãom.......................bãom.....................................

O senhor abade,naquele fim de tarde, deve ter feito o mais belo sermão fúnubre de toda a sua vida.
E a velha senhora,transportada já para o altissimo,sorria...enlevada...

Deus os tenha em sagrado descanso.

Amen.

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