terça-feira, 18 de março de 2008

Era uma vez...

Em tempos que já lá vão, existiu uma família composta de Pai, Mãe, e cinco filhos; três meninas e dois meninos. Porque eram muitos e o dinheiro que o Pai ganhava era pouco, viviam com algumas dificuldades. Mas não passavam fome!...simplesmente não podiam comer o que gostariam. Também não podiam vestir ou calçar o que queriam, mas apenas aquilo que os seus pais pudessem comprar-lhes. As roupinhas das meninas mais velhas eram "arranjadas" para poderem servir às mais novas. E com o calçado era a mesma coisa. Os Pais sempre davam um jeito para que todos andassem sempre muito asseados e com as barriguinhas cheias. Os Pais eram muito governados, quer dizer, não gastavam nada mal gasto. E tinha que ser assim, pois de outro modo como poderiam alimentar as sete bocas e trazer os cinco filhos na escola ?

Naquele tempo ainda o povo não sabia o que era o "planeamento familiar"e as famílias eram quase sempre assim, muito numerosas...é que fazer o que quer que fosse, para impedir a vinda a

este mundo, dos meninos ou meninas, era um pecado mortal...

Já a Mãe desta Mãe, e as Mãesde todas as outras Mães, tinham sido Mães de muitos meninos e meninas. Porém, graças ao sábio controlo do parco salário do pai, esta família vivia sem dever nada a ninguém, e todos os filhos andavam na escola. O mais velho na Escola Industrial, e a menina, a mais nova de todos os cinco, já aprendia as primeiras letras na Escola Infantil.


A Mãe, graças a Deus, gosava de boa saúde. Já o Pai, não. Sofria do estomago.Já tinha feito radiografia e a ulcera era bem visível.

Se a dieta e a medicação não curassem a ulcera, teriam de encarar a operação cirurgica que, naquele tempo, era muito arriscada. Porém, parecia inevitável. Assim, certo dia, o Pai, acompanhado pela Mãe, iam a caminho do hospital, quando se aproximou deles um cauteleiro tentando vender-lhes uma "cautelinha". A Mãe, angustiada, perante a insistencia do cauteleiro, desabafou: Ó homem!...então você não vê que o meu marido está muito doente!?...Olhe que ele vai a caminho do Hospital para fazer uma operação ao estomago!...

O cauteleiro, aparentando estar alarmado, sentenciou: Você não vá...olhe que você vai entrar pela porta da frente, mas pode ter de sair pela porta de trás!...não vá...não vá!....

O casal entreolhou-se. O Pai, falando com os olhos, perguntava à Mãe; Voltamos para trás?...

O cauteleiro, profundo conhecedor do seu oficio, insistia; Não vá homem...compre-me uma cautela...volte pra casa...durante dois ou três meses beba só leite, e não se rale muito co'a vida...

olhe que muita ralação faz má digestão!...


A argumentação do cauteleiro prevaleceu.

Compraram uma cautela ao coxo e voltaram para casa.

Depois, bem, depois, aconteceu o primeiro milagre. No sábado- naquele tempo a roda da lotaria andava ao sábado- verificaram que a cautela estava premiada. Não foi grande o prémio, mas foi o suficiente para realizarem um sonho antigo; comprar um belo cordão de ouro, que era o desejo de todas as mulheres e, por outro lado, era como um depósito bancário...estava sempre a valorizar.


Depois, o segundo milagre, foi acontecendo...a família cresceu. Chegou aos doze!...

E quando o Pai faleceu, já na casa dos noventa, ainda a tal operação não tinha sido feita...



1 comentário:

Sockfiks disse...

Está porreiro, pá.