terça-feira, 18 de março de 2008

A rabeca

Estavamos em finais de 1948 e o cenário era oferecido pelo Bairro residencial da Pooling em Nova Lisboa, Angola. Tal Bairro era constituído por casas de quatro, três, ou duas assoalhadas, conforme os agregados familiares. No fundo de cada quintal, situavam-se os anexos, que eram constituídos por lavandaria, quarto de dormir do empregado/a, casa de banho com duche, lavatório, sanita e cozinha.
Um dos utentes da "Pooling"era um soldador, muito competente, conhecido como Zé da Rabeca.
Era casado com a Dona Elvira e tinham três filhos: Dois rapazes e uma menina.
A empregada para todo o serviço era uma mesticinha ainda jóvem que, como é lógico, ocupava o quarto de dormir dos anexos.
Tudo decorria naquela casa com normalidade, até que um dia a Dona Elvira pareceu ver uma certa troca de olhares e um cochicho, entre a Zulmira, a empregada, e o seu Zé.
Atenta, a Dona Elvira reparou que, certa noitinha o seu Zé, de rabeca ao ombro, se preparava para, à sorrelfa, sair de casa. Também à sorrelfa, a Dona Elvira seguiu o marido e viu sem grande surpresa que este se dirigia para os aposentos da empregada.
Saiu-lhe ao caminho e enfrentou-o dizendo: Para onde vais meu menino?...
O seu Zé, vendo-se descoberto, decidiu fingir; e semicerrando os olhos e estendendo os braços para a frente, soletrou: Deixa-me mulher, deixa-me que eu sou sonambulo...
A Dona Elvira, sem hesitação, terá dito: Ai tu és sonambulo? Então espera aí que eu já te acordo.
E, sacando a rabeca do ombro do seu Zé, espatifou-lha sobre a cabeça...
É claro que o Zé nega.
Diz ele que de facto a rabeca se espatifou, simplesmente porque ele tropeçou e caiu em cheio sobre ela...
Estórias!...

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